Eu sei, meu amigo, os tempos mudam. E eu sou apenas um velho chato de 24 anos
Design não é arte, mas a arte é uma maneira de realçar nossas virtudes ou de expressar nossa cultura, nossos sentimentos, ou fazer uma denúncia, mas hoje, as pessoas não tem mais tempo pra pensar nessas coisas. Embora eu entenda perfeitamente o motivo por trás dessas mudanças, o fato é que até mesmo o público geral não tem entendido ou ficado satisfeito com muitas delas, e profissionalmente, muitas vezes para mim também não faz nenhum sentido.

O problema da Petz e do McDonalds
Profissionalmente falando, elas fazem total sentido com a época que vivemos. A mudança de cores da rede McDonalds para um cinza/preto e a ausência de brinquedos converge com essa ideia de “sociedade do rush”, onde tudo é pressa, trabalho, produtividade e lucro. Parece que estamos voltando ao taylorismo da década de 20, e muitas marcas têm abraçado esse minimalismo, algumas vezes forçado demais na minha opinião. Além disso, crianças passam mais tempo no celular.
Na primeira imagem do McDonalds, vemos uma franquia que parece ter parado ali nos anos 90. O excesso de entalhe no logotipo não ajuda, nem a estrutura geral do local. Concordo com a necessidade de mudança, mas eu revisaria alguns pontos que eu julgo importantes como o abandono total do vermelho, que tinha uma função muito importante, trocaria a tonalidade, e acertaram muito bem na wordmark do logotipo na imagem 2 (a parte escrita).
Já a Petz, ah, Petz, me desculpe. Mas vocês literalmente colocaram a personalidade numa coleira com tanta regra e, de novo, na minha opinião não precisava de nada disso. O antigo logotipo (imagem 3) tem alguns problemas de aplicabilidade e legibilidade devido à complexidade dos gradientes, mas é um logotipo cheio de personalidade, movimento e felicidade, lembrando cauda de cachorro, e pelo menos para mim, é muito mais fácil dizer “olha, é um Pet Shop”. A segunda imagem, no entanto, mostra um logotipo pesado, destoado da versão original e com a personalidade mais introvertida através das deformações nas letras. Também concordo com a necessidade de mudança, mas a princípio, bastariam alguns ajustes técnicos.
Eu mudei a maneira de me apresentar e isso não é abandonar o design
Design, diferente de arte, é regra e função, disso eu sei. Mas a minha nova identidade visual não tem apenas um contexto pessoal que envolve noites de insônia, hiperatividade, cores cinzas e pensamentos efêmeros, mas também demonstra uma atitude rebelde, um apelo para que as pessoas e marcas não se deixem sucumbir à necessidade de se adequar aos tempos modernos, e que possam equilibrar o útil e o agradável.
De imediato, você vê uma grande bagunça, fontes que você nunca viu em lugar nenhum e uma estrutura visual totalmente destoada do design tradicional. Eu não declarei guerra ao design tradicional, nem ao minimalismo, e tudo isso foi cuidadosamente pensado, e vai sendo refinado e melhorado conforme o tempo passa, mas sim a essa onda de despersonalização de pessoas e marcas, que se transformaram na personificação da indústria taylorista do início do século 20 que não consegue mais ver pessoas, nem histórias, apenas produção e lucro.
Minha vida sempre foi estática, e eu quis mudar isso
Todos os projetos que desenvolvi anteriormente para mim mesmo não estavam em sintonia com a minha pessoa. Hoje, eu combinei um pouco de arte e design para trazer o movimento de volta. Eu saio mais vezes, não consigo ficar quieto. Eu uso lotties e outras animações nas minhas páginas e nas páginas de meus clientes, gosto de criar projetos dinâmicos através de códigos e animações. Antes, minha vida era branca e cinza, e agora é preta e laranja. Ela tem energia, pessoas incríveis e estou muito contente com o resultado.
Também é sobre valores
Em uma era onde as pessoas estão delegando cada vez mais o córtex cerebral para ChatGPT e outras inteligências artificiais, existem aquelas pessoas que entendem que essas ferramentas devem nos servir, e não o contrário. O mundo sempre vai precisar de pessoas reais e vivas, capazes de auxiliar na tomada de decisões para diversos contextos específicos onde as IAs não alcançam, por isso acho importante transmitir isso também através de um pouco de tradicionalismo. Meu novo logotipo tem como um de seus alicerces uma pintura, Starry Night, que se encontra em um período intermediário da história. Nem muito recente quanto os quadros de Romero Britto, e nem tão antigo quanto Mona Lisa.
A ideia de um conceito visual com mais curvas que lembrem um pincel e tenha traços artísticos, está relacionada a movimento e criatividade. Eu utilizei uma estrutura baseada em 2 arquétipos principais e outros dois de apoio, sendo:
Criador: inventivo e cheio de ideias. Eu dou valor em ideias de todos os tipos, como forma de chegar a uma solução ideal.
Explorador: detesta ficar parado em apenas um lugar, acha o tédio uma forma válida de tortura e está sempre mudando alguma coisa.
Sábio: gosta de ensinar coisas, fazer longos textões e se dedicar a horas de explicação sobre seus assuntos favoritos ou colaborar para que se chegue a uma solução. Odeia sentir que suas opiniões são inúteis.
Cuidador: gosta de ajudar e ver o sucesso de outras pessoas.
É também sobre uma nova linguagem
Antes, eu usava uma linguagem excessivamente formal, mas o fato é que eu mesmo não sou uma pessoa formal, eu uso ironias, escrevo textos, uso metáforas, faço ilações criativas e conto piada ruim. Por isso, morreu aquele negócio de ser sempre o Sr. Certinho e também foi a forma que encontrei de combater meu perfeccionismo.